terça-feira, 1 de maio de 2012

Retrato da minha cidade no 1.º de Maio

 

Um som de fundo preenche as ruas.

O vento de sul, que arrasta consigo nuvens negras, traz também esporádicas e grossas pingas.

À mistura, arrasta o som das vendedeiras de cuecas, peúgas, atoalhados e outros bens.

No Rossio há mercado. E gente.

E nós percorremos as ruas, quase desertas.

Apesar de tudo, o comercio tradicional, quase todo, fechou portas.

Apesar disso,  encontrarmos, aqui e ali, alguns comércios abertos.

As lojas dos chineses, essas lá estão,(religiosamente – coisa estranha de dizer) à espera de nós.

Encontramos amigos que nos dizem haver enchentes nas grandes superfícies da periferia.

Nada que não tivéssemos previsto.

Na melhor estratégia Goebelsiana haviam anunciado descontos soberbos.

Canalhas.

Fascistas.

E as gentes miseráveis da minha cidade acorreram como feras esfomeadas...

Venderam-se por meio prato de lentilhas.

 

Mas nós fomos para o desfile... para a luta.

Nem um café comprámos.

Quantos éramos???

Perante o desalento, alguém me lembra os ditos de um homem simples:

«Há pobres desgraçados, que são pobres em tudo!…».

 

Lamento, mas hoje estou muito desanimado.

Só me confortam as palavras cantadas de Sergio Godinho:

...não é por mim que eu me queixo....

Quem me lê, sabe o resto.

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