Teimam muitos, por vezes mesmo sob pretensa cobertura académica, em procurar interpretar resultados eleitorais, consubstanciando as apreciações a imaginadas transferências de sentidos de voto - à boa maneira das transferências em futebol.
Dizem agora, que o voto virou à direita. E pronto.
Ora se PSD e CDS tiveram mais votos que PS; CDU e BE, logo…
Antes, votantes do BE e do PS, votaram agora PSD ou CDS, afirmam.
Não têm o mais elementar indicador lógico de que tal se tenha processado assim. Mas afirmam.
Não questionam.
Por exemplo:
Estratégia de esvaziamento de sentido à dicotomia esquerda, direita:
Sabemos que PSD e CDS se esforçaram por esvaziar conteúdos ideológicos e transmitir a ideia que Esquerda e Direita eram artificialismos e que as questões com que Portugal se defrontava eram bem mais importantes do que «esta pequena questão».
Recordemos que o PSD se esganiçou para fazer passar esta mensagem e para afirmar a sua «vertente» social democrata. Acrescentemos-lhe o facto de Portas ter passeado cravo vermelho na lapela. Concentremo-nos ainda no facto de que ambos fizeram passar a ideia de que o importante era derrubar Sócrates (insinuando que poderiam participar num futuro governo até com outros - desde que não com Sócrates..
E interroguemo-nos: Não terá tido êxito esta estratégia?
E se sim, é legítimo concluir que os que se deixaram arrastar para ela, consubstanciaram uma «viragem à direita»?
Dinâmicas de sentidos de voto
Pode alguém afirmar com rigor qual o trajecto do sentido de voto mais verificado entre os eleitores?
Do PS para o PSD? Do BE para o PS, Do PS para a abstenção; do PSD para o CDS, Da abstenção para o PSD? Da CDU para o PS? Do PS para a CDU?
O único dado que parece ser objectivamente quantificado é o que se traduz no voto contra Sócrates.
E o voto contra Sócrates pode ser enquadrado no sentido de viragem à direita que alguns analistas, comentadores e dirigentes partidários agora parecem identificar?
Agora, ninguém parece afirmar que o que aconteceu foi a dura penalização do Governo de Sócrates e da política de direita que sempre seguiu.
E Sócrates até sai de mãos lavadas.
Ele bem tentou evitar esta «viragem à direita»…
Podem outros subestimar a importância de uma análise objectiva a estes factores. Por mim e cuidando-me com uma ensinamento do menino Carlinhos (quando este afirma que o que é preciso é publicidade…) atormenta-me a ideia que vamos sedimentando na direita de que o eleitorado votou à direita.
Portas, esperto como é, já fala em alterar a lei do aborto, facilitar os despedimentos - incluindo na FP - alterar a Constituição?
Vamos continuar a alimentar-lhe o seu egozinho?
Se com três deputados a mais ele parece ter ganho o país…(o sol, a lua e tudo o mais)
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