terça-feira, 6 de outubro de 2015

O real e o projetado


Quem acompanha o real através dos olhos e das palavras escritas ou faladas de outros corre o risco de não o chegar a conhecer.

Conhecerá o que esses outros transmitem, ser o real.

A fronteira é cada vez mais ténue. O que vemos são projeções e o que ouvimos são ecos.

Concentremo-nos, por exemplo, nos espetáculos mediáticos da noite eleitoral.
Quantos eram, os analistas, especialistas e outros a interpretar e a fazer interpretação do real.
E mesmo quando o real se impunha (resistindo) depressa se encontrava uma maneira de o contornar.
Uma estação de televisão apontou, logo às 19 horas, uma projeção de abstenção que se situaria dentro do intervalo 35 a 39%. Ela foi de 43%.
Passaram todos, mas (quase) todos mesmo, desde dirigentes partidários a outros, a noite inteira a falar da positividade do facto que não o foi.
No final, nesta mesma estação (e quando os número reais já eram do domínio geral) o pivot afirmou que todas as projeções da estação tinham sido confirmadas.
A plasticidade destes intervalos serve para essa moldagem. A sua amplitude chega a ser, em alguns casos, 1/3 do valor que estimam para um determinado resultado.

O real, saído desta moldagem, é a negação do ocorrido. Todos estes plasticistas transformaram a vontade dos portugueses (dos que votaram e dos que não votaram) num simples jogo de matraquilhos. Entraram 10 bolas aqui e 9 ali, logo ganharam os daqui.
E eis o real absorvido.

Hoje, num noticiário da tarde, um outro canal de televisão, passa uma reportagem sobre mais uma tragédia envolvendo refugiados. Numa casa abrigo, na Alemanha, um fogo provocou a morte a um jovem de 29 anos. Na reportagem aparecem declarações de uma senhora (responsável pela casa abrigo? Da polícia? Não ficamos a saber) com as quais afirma não haver indícios claros de se tratar de ato criminoso, mas que no entanto iam ser desenvolvidas as necessárias pesquisas.
O pivot de serviço, conclui que se tinha tratado de ato criminoso.

Noutro caso, quem acompanha a estruturada e meticulosa preparação da campanha do professor encontrará inúmeras situações de esbatimento entre o real e o projetado.
É o real (o povo) que clama pelo professor ou foram as projeções dele e dos outros que o seguem venerando-o, que construíram esse cenário?

Não é fácil procurar ler o real.
A televisão, os jornais, a rádio, a «imaculada» internet, os colegas, os vizinhos, os amigos. Até em casa. Tudo nos empurra para fora dele (o real) e nos conduz para as simplicidades das  suas projeções.

O real é complicado.

As projeções que nos apresentam dele são muito mais simples.
Todos as entendem. Todos pensam assim. Todos…

Por mim, tentarei resistir. Enquanto puder

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