quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Contrastesaridades

Primeira

A política mudou. Mas mudou mesmo. Já não são dominantes aquelas figuras sinistras, com meia cara de gozo e outra meia cara de prazer pelo mal feito, que anunciavam, com a cadência de relógio, cortes, cortes, cortes. Nos salários, nas pensões, nas prestações sociais, evidentemente.
Mas na comunicação social tudo continua como antes. Os DDT(s) perderam os cães de fila (muitos, mas não todos) que tinham atiçado para o poder, mas não perderam o poder de dispor dos media.
Para a reportagem ou apontamento sem importância vão surgindo umas caretas novas, mas para o comentário, o douto comentário, o comentário dos comentadores especializados em especialização, mantêm-se os mesmos anafados de há 30 ou 40 anos, com os discursos redondos das inevitabilidades, dos mercados, da europa e do raio que os parta.
Não vai dar bom resultado, esta coisa.

Segunda

O trabalho destes doutos foi deveras eloquente nas diatribes a que chamam análises, após o debate entre nove candidatos à Presidência da República.
O professor – o afilhado – foi magnânimo, espetacular, de uma inteligência superior. O professor – o afilhado – soube gerir o silêncio.
Não, ele não estava a fugir às questões, estava a gerir o silêncio.
E é com esse silêncio que quer fugir ao seu passado – deixemos o passado mais longínquo, o passado das suas conversas com o padrinho no qual parece ter ido buscar inspiração para as suas conversas em família, concentremo-nos no passado recente – quando elogiava Cavaco, abraçava Salgado, dava cobertura a Passos e Portas. Quando dizia que era verde o que logo a seguir afirmava ser azul.
Com um passado destes, só lhe resta mesmo gerir o silêncio.

Terceira

O TC – o mesmo TC que considerou como inconstitucionais os cortes de salários dos funcionários públicos, mas que arrematou, proclamando:« bem, mas os que já foram feitos…já foram» e que logo em seguida permitiu que os mesmos fossem repostos em versão mais ligth vem agora proclamar como inconstitucional o corte das subvenções vitalícias e proclamar o direito às «vítimas» a receberem os «devidos» retroativos.
Os argumentos são verdadeiras pérolas de linguagem antissocial.
Alguns dos coitados viram-se na contingência de pedir ajuda às famílias. E …não é juridicamente correto defraudar justas expectativas.
Aos funcionários públicos a quem cortaram os salários não lhes foi perguntado se tinham famílias a quem pudessem recorrer.
Os salários dos trabalhadores, contratualmente definidos e estabelecidos por lei, não se constituem como uma garantia jurídica intocável. Aqui não há justas expectativas.
Irra.

Quarta

Voltaram os discursos da desgraça. Os mercados estão zangados. A europa não vai permitir. Os juros vão subir. A Srª Merkel vai zangar-se. Vamos ser como a Grécia.
Tudo isto porque o governo devolve o que o governo anterior roubou.
Passos, sem corar por um momento que seja, insurge-se contra o que define de aumentos trimestrais para os funcionários públicos.
O mesmo Passos, que tirou e que nas últimas eleições (há pouco mais de três meses), afirmou a existência de condições para devolver.
É preciso lata. Muita lata.

Quinta (que não é apropriadamente uma contrastesaridade – seja lá isto o que for)

Como provavelmente não escreverei antes das eleições de domingo (não sei) e porque não preciso de contar até 100 e gosto de eleições (o professor, suporta-as) quero deixar aqui expressa convicção que até há pouco, não tinha.
É minha convicção que o professor vai ter que continuar a contar…talvez até mil ou mesmo mil vezes isso ao cubo e que iremos ter uma segunda volta.
Tenho 50% de possibilidade de acertar.

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