segunda-feira, 8 de junho de 2015

Estratégica pontaria


Foi com alguma comoção, quase a raiar o ponto em que ficamos com «pele de galinha», que acompanhei o debate recente sobre a liberdade de imprensa a propósito de uma lei que pretendia regulamentar a forma de cobertura jornalística das campanhas eleitorais que se aproximam (dizem).
Foi digna de ver a posição dos senhores dos jornais, das rádios e tvs. Em uníssono protestaram contra o que definiram como uma afronta e um ataque sem precedentes contra a liberdade de imprensa.
Foi bonito de ver.
O que é ainda mais bonito de ver é a hipocrisia desta gente.
Liberdade de imprensa? Qual liberdade? A formatada, a que se constitui como boletins de propaganda do regime?
Vejamos exemplos, com pouco mais de 24 horas:
Regime sírio bombardeia aldeias do norte da Síria e provoca a morte de 49 civis entre os quais seis crianças.  As vítimas são civis e crianças.
Quando a força imperial sob os altos desígnios dos EUA, bombardeia o grupo de ex amigos, também na Síria – numa aldeia ao lado - os seus resultado são sempre gloriosos e não provocam vítimas, mas simplesmente baixas entre os inimigos. Não morrem civis e muito menos crianças.
Uma outra notícia dava-nos conta de combates entre insurrrectos e o exército paquistanês que causaram 26 mortos. Não há civis e muito menos crianças entre os mortos.
Notícias similares vindas da Ucrânia falam de mortos, mas entre eles não há nem civis, nem crianças.
Só há vítimas civis e crianças como resultado das ações do regime Sírio.
Que pontaria, têm estes jornalistas livres.
Em Portugal e agora sem sangue nem mortos, a CDU leva um mar de gente a Lisboa numa marcha de esperança para os portugueses. Os jornais, as televisões, as rádios ou ignoraram ou trataram como pequeno acontecimento.
Grande acontecimento a merecer toda a sua atenção foi a brigada do reumático, reunida numa sala ali perto a prepararem-se para voltar a fazer do mesmo.
Voltaram todos das gaiolas douradas aonde hibernaram.
Merecedor de noticia era procurar saber, fazer reportagem, ouvir comentários, dar a palavra ao professor para saber se o outro sai com pulseira ou sem pulseira.
A marcha da esperança, essa não é notícia.
E não é noticia nem tema.
Ainda se ela tivesse sido realizada...sei lá...por um movimento qualquer, do tipo daqueles em Espanha...
Os organizadores poderiam ter tentado dar a volta...sei lá...por exemplo definirem-se por CDUanos.
Assim talvez fosse notícia.

Viva a liberdade de imprensa.

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