terça-feira, 30 de junho de 2015

Pobres de espirito


O maltês acercou-se do monte para pedir esmola.
O senhor do monte, das terras que a vista não alcança e das gentes que por lá sobrevivem, virou-se para o caseiro e disse-lhe: - sobrou um casqueiro da açorda de antes de ontem, vai dá-lo a esse desgraçado.
Patrão…hoje dá-lhe o casqueiro, amanhã ele rouba-lhe um porco…!
Faz o que te digo.
Contrariado. Assim fez.
Sob este mote se passavam as coisas no tempo em que se chamavam malteses aos que nem sabiam que havia no mundo um país cujos originários usam tal denominação.
E assim se passam as coisas no tempo em que já não há malteses mas aonde continuam a sobrar os pobres.
Os senhores de tudo aí estão caridosos e os pobres de tudo aí estão cada vez mais pobres de espirito.
Ouvi um dia e recordarei para sempre: - «Ah pobres d´um cabrão que são pobres em tudo».
Os pobres de tudo continuam mesquinhos, invejosos. E continuam lacaios. Sabujos.
Quando ao igual a si retiram direitos, regozija-se , exclamando: bem feito!
E o outro fica mais pobre, mais igual a ele.
Incapazes de agir, os pobres de tudo invejam os que têm um pouco mais – por muito pouco que seja – na esperança que ele se encontre como ele se encontra: miserável.
Quem já leu Marx (18 de Brumário) sabe o papel nefasto que estes miseráveis podem desempenhar.
São muitas as situações em que se encaixariam estas considerações, mas elas são escritas pensando nos miseráveis que largam «postas de pescada» sobre a Grécia.
É uma dor de alma vê-los ajoelhados, babadinhos, lacaios, sabujos chamando todos os impropérios a um povo que não conhecem, a uma terra aonde nunca foram, sobre uma situação que nem sabem descrever.
E neste coro, aos miseráveis até se juntam outros que tais, que usam gravata, têm carro com motorista e julgam que têm voto na matéria.
Mas não têm nada. São simplesmente miseráveis e pobres de espirito.

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