segunda-feira, 20 de abril de 2020

Despudor (s) despudorado (s)

Escrevia a cronista que, as exigências de aumentos salariais para a Função Pública ( de 1% em 2021) eram expressão sem pudor e comportamento inaceitável por parte de partidos (alguns) e sindicatos.
Não creio que se tenha interrogado, enquanto dedilhava, por um segundo sequer, sobre o pudor com que fazia tal afirmação.
Se a crise é de finanças públicas, então com todo o pudor, chamam-se os funcionários públicos a suportar os seus custos.
Se a crise é orçamental (regras face ao deficit) de novo são chamados os mesmos.
Se é sanitária (pandemia) idem.
É uma perspectiva discursiva destinada a ter êxito. Principalmente se o espera  (o êxito) de quem odeia o «público» porque ama o lucro privado, de quem não gosta de se interrogar e vê sempre nos outros as culpas, de quem está contra porque está contra, porque a vedeta dele está contra.
Sem pudor, poderia resumir muito facilmente, o universo daqueles onde tal discurso tem êxito, entre ressabiados e estúpidos.
Provavelmente, a cronista, nessa noite, saiu à janela para aplaudir os profissionais de saúde pelo seu importante papel na luta contra a pandemia.
Nada me leva a crer que não tenha incluído, nessa sua homenagem, para além dos médicos, os enfermeiros, auxiliares, técnicos de diagnóstico, tripulantes de ambulância, bombeiros, guardas republicanos, policias.
Creio, que terá passado também por essa sua tão nobre atitude,  a vontade de incluir investigadores (das mais diversas áreas), os homens e as mulheres que asseguram a limpeza (dos hospitais, das vias públicas, dos sanitários), os que fazem as refeições nos hospitais, os que tratam as águas que correm pelas nossas torneiras, que recolhem os lixos, tratam dos esgotos, lavam batas e desinfestam equipamentos e instalações.
Lembrou-se garantidamente de todos...
Todos funcionários públicos.
E com essa lembrança, veio a inspiração para considerar despudorada a justa reivindicação de aumentos salariais que há mais de uma década são negados aos funcionários públicos.

0 comentários:

Enviar um comentário