sexta-feira, 28 de maio de 2010

DEMOCRACIA


São diários os indicadores que expressam uma crescente debilidade da democracia. Aleatoriamente podemos referir como exemplos dessa debilidade as várias tentativas de controlo governamental dos órgãos de comunicação social por parte do poder e o seu controlo efectivo por parte dos grandes grupos económicos e financeiros, o despudor de inúmeras declarações dos gurus desses mesmos grupos sobre condições sociais e sobre os salários, os ataques aos direitos e regalias sociais, as intimidações várias, algumas materializadas outras implícitas sobre a liberdade de expressão.
A par deste processo, um outro se desenvolve – como sua consequência – e que se traduz num crescente alheamento das coisas públicas por parte da generalidade dos cidadãos, uma culpabilização cega «dos políticos» pela situação criada metendo tudo no mesmo saco, uma perda de confiança na sua própria intervenção cidadã, um isolamento em si crescente.
Alienação, julgo que diria Marx.
Alienação essa que conduz a um processo que Boaventura Sousa Santos designa por fascismo social e que considero cada vez e perigosamente mais enraizado.
A culpa de tudo não é dos culpados, mas sim das vítimas da situação.
Dos funcionários públicos, dos professores, dos médicos, dos policias, dos operários de todos os que têm salários e que lutam pela manutenção de direitos. Estes são privilegiados e por força disso culpados aos olhos de uma mole crescente de alienados.
A culpa é dos africanos, dos brasileiros, dos de leste, dos que recebem o RSI (cujos custos representam uma ínfima parte dos custos da Segurança Social).
Está perigosa a situação.
E os resultados de uma sondagem hoje divulgada indiciam desse grau de perigosidade.
Perante a doença, parece que nos inclinamos para paliativos numa perspectiva de atenuar os dolorosos efeitos do estado terminal dessa doença.
Colocar como alternativa a Sócrates, aquele projecto fabricado pela direita mais direitista - para não ir mais além, do PSD, é um sinal de decadência e de debilidade grave da democracia portuguesa.
É um perigoso paliativo.
Nesta data de triste memória para a democracia, não são animadores os tempos.

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