terça-feira, 4 de maio de 2010

Um país ajoelhado



Apesar dos solavancos - projectamos TGV mas ainda temos linhas neste estado - consegui concluir as palavras cruzadas e agora cruzo os olhos para a paisagem que me projecta a janela.
E penso igualmente no papa, não que me tenha tornado seu seguidor, mas porque se aproxima a sua visita a Portugal e daí derivarem implicações várias na minha e na vida de todos os portugueses.
Tolerâncias de ponto, cidades bloqueadas, oito mil polícias na protecção de sua santidade, mobiliário urbano tirado, impedimentos de estacionamento, mobílias novas, palcos gigantescos e isto se só falar das coisas grandes…
Num país cujo o Governo nos disse que não tinha meios para aumentar os salários, que enche a boca a toda a hora a falar de crise, que nos aterroriza com o deficit, que nos ofende com a questão da produtividade.
Num pais com 700000 desempregados e dois milhões de pobres.
Num país cuja Constituição assegura a sua condição laica.
E nesse mesmo país, SESPR (Presidente da República) agenda passar todo o tempo de estada de sua santidade, de joelhos…já que não pretende faltar a uma missazinha sequer…
Somos um país ajoelhado.
Ajoelhamos perante o papa, ajoelhamos perante as agências especuladoras internacionais, ajoelhamos perante o Presidente Checo…
Aos governantes, alguns políticos - com destaque para as recentes crias saídas da cartola - empresários, economistas (alguns dos seus gurus) e toda a restante vassalagem do capital financeiro, ficar-lhes-ia bem um pouco de decoro ( e alguma coerência), mas como sabemos, é coisa que não cultivam e assim é vê-los nesse seu ajoelhar colectivo como se assim conseguissem purgar todos (ou até mesmo, algum) os seus pecados.
Mas o que dói é verificar que muitos dos esquecidos da igreja do papa que vem de visita, também ajoelham e acham bem, mas estes certamente pensando que assim poderão acalmar o deus que tem sido tão impiedoso para consigo.
Com todo o respeito do mundo para com os católicos crentes e que como eu querem um mundo melhor para os homens:
papa não, muito obrigado.

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