segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Amor Feliz



Sou da geração de Abril.
Aprendi a viver a liberdade quando esta dava também os seus primeiros passos.
Aprendi pois por isso, por força deste privilégio de que nem todos puderam usufruir, que os homens são iguais perante si.
Em direitos, em oportunidades e em responsabilidades.
Assim caldeado, aflige-me constatar que, se por um lado faço parte da geração privilegiada, faço por outro lado parte, daqueles que com tristeza constatam, que estamos a viver um retrocesso civilizacional.
Para além de outros, muitos, são indicadores que fundamentam esta constatação, os crescentes casos de violência por força do género, essencialmente sobre as mulheres, a que se convencionou (não sei se bem) designar por violência doméstica.
Se actualizados os números, são, ao momento, 14 as mulheres assassinadas este ano, por maridos, companheiros ou namorados, ou ex cada uma destas situações.
Crescem (segundo a edição de hoje do «Público») as queixas contra menores por violência sexual.
Todos conhecemos, situações na juventude ou mesmo ainda na adolescência, de violência (quase sempre) dos namorados sobre as raparigas.
Por amor, dizem todos. Independentemente das idades.
Há para este drama, as mais diversas teorias de intervenção No entanto, julgo que quase todas apontam para a parte final do problema, ou seja, para a necessidade de uma maior protecção policial e por uma maior repressão aos criminosos.
Serão importantes, mas insuficientes.
Julgo que o problema tem uma dimensão cultural que não pode ser desprezada.
Quando tanto se fala e parece que pouco se faz, de educação sexual nos programas escolares, poderia ser contributo importante, que na matéria se incluísse a temática da igualdade do género.
Onde pudesse ficar claro que amar é, não possuir, mas partilhar. É a simbiose de duas vontades, livres.
As “telenovelcas” de trazer por casa que têm arrastado fornadas de adolescentes para comportamentos padronizados, têm contribuído para tudo, menos para a difusão de um conceito de amor livre.
E livre, porque são livres os pares. Não porque seja desregrado.
Quando todos perceberem a diferença (mesmo no capítulo do prazer físico) entre amor partilhado e «amor» suportado porque imposto, então estaremos muito próximos de um amor feliz.

Este texto é um mero desabafo de indignação e uma vibrante condenação, face aos crimes bárbaros praticados por pessoas com quem se partilhou casa, filhos e vidas….

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