Esta é uma dicotomia presente há muito.
Rousseaau dedicou-lhe especial atenção e tem em torno da mesma, pensamentos mundialmente difundidos, citados e em torno dos quais se travam ainda importantes reflexões académicas.
É o homem naturalmente bom e é a vida social que o corrompe e o torna num homem mau, ou é precisamente o contrario, ou seja, o homem nasce mau e a vida em sociedade vai torná-lo bom?
Numa fase de maior azedume seremos tentados em concluir que o homem é mau, é bicho de si mesmo, independentemente de procurar saber se é a natureza ou a sociedade que têm a primazia nesse processo.
E percorremos a memória e o presente e assim obtemos um infindável rol de atrocidades cometidas pelo homem. Conseguimos mesmo, num processo de simbiose pictórica, definir contornos, imaginar a figura do «bicho».
Noutros momentos, de maior doçura, vemos o lado bom de tantos homens e mulheres, no passado e no presente, fazendo das suas vidas exemplos estóicos de entrega aos valores mais nobres da condição humana.
Uma pessoa amiga, arremataria: «Há gente boa e gente má em todo o lado».
E é neste «enleio» que encontro de novo em Rousseau o pensamento que pode ajudar. Disse-nos que, e passo a citar: «É demasiado difícil pensar com nobreza quando pensamos apenas em ganhar a vida».
Talvez na constatação e na aceitação deste pensamento se encontrem as respostas que por vezes procuramos.
Talvez aqui se perceba o porquê. Talvez a explicação esteja na capacidade diferenciada que exista nos homens e que permite a uns a capacidade de superar as dificuldades (dignificando-os) e em outros a fraqueza e a submissão (escravizando-os).
Porque hoje estou «Roussiniano», cito de novo: «A força fez os primeiros escravos. A sua cobardia perpetuou-os».
Ao ver o que se passa hoje, em Portugal e em tantas outras partes do mundo, em que o cenário não será muito diferente, constatamos que muitas cobardias estão a escravizar-nos.
Serão os homens capazes, terão força suficiente para olhar o mundo com mais nobreza?
Terão os homens força bastante para evitar a escravidão com que nos aguilhotinam de novo?
Quero pensar que sim?
Mas às vezes parece que não.
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