Tão frios como os dias que fazem por estes dias são as noticias, que se expressam quase sempre em números, que se referem às pessoas sem trabalho.
Seiscentos e dezassete mil (números oficiais), duzentos e quarenta e sete mil (desde a crise) mais não sei quantos mil que em período homólogo, sessenta e não sei quantos mil são detentores de um curso superior…
Mas muitos mil são os dias de angústia, de desespero, de sonhos adiados.
Homens, mulheres e sobretudo jovens que iniciam cada dia na permanente esperança de um dia diferente e que o terminam sob a triste amargura de mais um dia falhado.
E ao longo de meses, de anos. Assim é.
«Rodas paradas de uma engrenagem caduca» como escreveu Soeiro.
Até quando? Porquê? É isto inevitável?
A estas acrescentam outras, muitas outras interrogações.
Têm tempo, muito tempo, para interrogar.
E para interrogar acima de tudo a ausência de respostas.
E os dias passam.
E os sonhos adiam-se. Só não se adia o presente.
Adia-se a vida.
Distribuem-se uns flyers no centro comercial, impingem-se tvs por satélite, repõem-se pacotes de farinha nas prateleiras de supermercado, vendem-se seguros a quem se afoga na insegurança.
Arrastam-se. Mais um dia.
Há rendas por pagar.
E contribuições para a segurança social, para o irs, para o IVA por causa de um recibo verde de 30 euros.
E depois ainda há que aturar um energúmeno qualquer que lhes berra: « vão trabalhar malandros» ou enojar-se com a escrita de um escrevedor de jornais pançudo, que esborratou que a culpa da situação é dos direitos laborais e sociais que os seus pais desfrutam.
Para todos os trabalhadores sem trabalho e para todos os que estão em situações laborais vegetativas uma palavra de solidariedade activa.
Não são os meus direitos que vos retiram o trabalho.
Quem vos retira o trabalho são os mesmos que me retiram os direitos.
Encontramo-nos por aí.
Na luta.
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