quarta-feira, 20 de maio de 2015

Uma historia banal


Tivesse eu arte e engenho para agarrar em palavras e transformar escritos em literatura e hoje tomaria a notícia que nos diz que um idoso de 92 anos, a quem roubaram a carteira, retirou a queixa que havia apresentado contra a carteirista, uma idosa de 84, e inspirado, escreveria uma linda história de amor.
Ou não.
Talvez uma história de desamores, de desencontros.
Ou uma história do quotidiano em que uma avó, sem outros recursos, faz do rápido e subtil furto, uma forma de sobrevivência e uma forma de pagar as propinas do neto que frequenta o 3.º ano do curso de direito.
Ou, pelas mesmas razões e com fins diferentes. O neto, toxicodependente, precisa crescentemente de mais dinheiro para sustentar o insustentável.
E o idoso, o que fazia ele na queima das fitas?
O neto deste, comemorava o fim do curso.
Ou, cansado da solidão, veio à rua onde via tanta gente nova a divertir-se.
Não sendo possível a transformação literária, partilho convosco este apontamento de uma história, para muitos, banal – não para mim.
Se outra coisa não é e não é certamente, é pelo menos uma história humana a verdejar nesta aridez de desumanidades.

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