sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Alentejanices

Li há dias, em sitio que agora não consigo precisar, noticia sobre a realização do 1.º Congresso do Baixo Alentejo.
Aí rezava que este ía ter lugar, em data próxima, em Odemira segundo creio.

Não me admirará que a este se sigam os congressos do alentejo litoral, central, do norte, raiano e qualquer outra encenação geográfica que alguns lhes julguem útil.
Estou ainda em crer que a própria anedotaria sofrerá, em consequência, uma profunda reformulação, ou seja, em vez do useiro começo . «sabes aquela do alentejano…?» se passará a usar: «sabes aquela do baixo alentejano…?» ou: «sabes aquela do alentejano do norte…?».
Já conhecíamos a tendência para este tipo de «geografismos» por força da nomenclatura do INE, ao terem sido criados por este Instituto Público, os conceitos de Alentejo Central, Baixo Alentejo, Alto Alentejo, Alentejo Litoral, a que acrescentaram a pérola, Lezíria do Tejo.
Foi assim que as gentes das campinas Ribatejanas, com base num clique, passaram a ser alentejanos.
Paradoxos dos tempos, os homens e mulheres de Rio Maior, são agora alentejanos e paradoxos de lugar, os morenses e souselenses andam frequentemente aos pulinhos entre o central e o alto.
A inclusão destes territórios além tejo (para os que estão aqui a sul dele) parece ter fundamento no PIB. (e desta discussão andamos servidos).
Já as outras mexidas internas, julgo encontrarem fundamento naquilo que se poderá integrar na sigla: TASSDT - Tenho Aspirações a Ser Senhor Deste Território.
Descontada a ironia, a verdade é que os argumentos (‘) que vão sendo conhecidos, se inserem em estratégias de nichos partidários onde se alojam ambições pessoais desmedidas.
O Alentejo que vem de Niza e vai até Odemira e que abarca a planície, as serras, os rios, o mar e que é vizinho de espanhóis e acena na lezíria a ribatejanos e se cruza com algarvios nos enrodilhados caminhos do Caldeirão, é uno e indivisível.
Condicionar e procurar fragmentar a identidade de um povo por força de complexos sobre onde vai ficar a capital com base no cavernoso argumento que não se quer um novo terreiro do paço na praça do giraldo é de uma grande baixeza e só procura camuflar outras reais intenções de ambições desmedidas.
É que o tempo em que havia capitais de tudo, desde a farinheira ao caracol, já lá vai.
Discutamos regionalização e integremos nessa discussão a imperiosidade de podermos definir o rumo político de tudo aquilo que à região diga respeito.
A possibilidade de os nossos representantes serem por nós (mal ou bem) eleitos e não serem os directores regionais escolhidos.
E não venham outros com o fantasma dos custos. Os custos já existem. A legitimidade de quem os autoriza é que é duvidosa.

O Alentejo pode até ser terra de gente gorda, não queremos é que seja terra de gente «baixa».

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