quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Há unanimismos perigosos

Observação prévia: apesar do corretor de texto insistir em considerar como erro o termo unanimismo, insisto em usá-lo em detrimento da sugestão : unanimidade, por considerar existirem diferenças expressivas.

Unanimidade pode ser uma de aproximação consentida e aceite pelos intervenientes num determinado processo e que se traduz na aceitação e síntese das opiniões individuais, em uma e só opinião, que passa a colectiva.

Unanimismo é o processo resultante de uma produção , no qual se descura o esclarecimento e se insiste na difusão de chavões de fácil aceitação pela generalidade das pessoas. É a antítese de unanimidade.

Exemplos:

Unanimismo da crise

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A crise, os discursos e a tomada de medidas justificadas por ela são um dos marcantes exemplos dos perigos do unanimismo.

Poucos, as exceções são muito raras, procuraram identificar causas.

A produção passou pela transmissão generalizada do carácter supra nacional da crise com laivos ridículos de sobre natural.

Como se o facto de ela ser supra nacional pudesse de alguma forma permitir que se descartasse a procura de responsáveis.

Claro que eles existem e claro que não só Sócrates; Passos; Teixeira, Cavaco, Durão, Portas. Também são americanos, ingleses, franceses, alemães e têm nomes.

O que não têm são processos de responsabilização criminal pelos crimes que praticaram e praticam.

E as vítimas são todos os que vivem dos rendimentos que auferem pelo seu trabalho.

E os beneficiários (vejam-se os dados referentes às gritantes desigualdades na distribuição dos rendimentos e vejam-se também as vergonhosas diferenças fiscais entre rendimentos do trabalho e rendimentos de capital) são os patos gordos que à sombra da crise - desta e de outras - e que vivendo do rendimento gerado pelos trabalhadores, acumulam colossais riquezas e privilégios

Unanimismo do «estado gordo».

A produção passa pela construção da ideia que um dos grandes culpados pela crise é a existência de um estado gordo, no qual a função publica goza de largos privilégios.

E o sucesso da estratégia está assegurado na medida em que até é verdade que existe um estado gordo e que existem privilégios na função pública.

Mas quererão identificar quem tem engordado no e o estado?

Lembram-se dos empregos para os rapazes?

E as mordomias?

Quem usufruiu (usufrui) de cartões de crédito? Quem dispunha (dispõe) telemóveis para uso ilimitado? Quem acumulou (acumula) vencimentos com senhas de presença e remunerações por participação em órgãos sociais . Quem dispôs (dispõe) da administração a seu belo prazer para arranjar empregos para sobrinhos, primos e amigas? Quem autorizou delegados regionais de toda a pelintrice a usufruir de carro e motorista para todo e qualquer fim? Será necessário dar seguimento às interrogações?

Pois o estado não pode nem deve estar gordo, mas tem de estar saudável e apto para desempenhar as funções sociais que lhe competem e para as quais pagamos os nossos impostos.

E no processo de construção / intoxicação do unanimismo, não confundam função pública com funcionários públicos, porque estes são as vitimas primeiras da pelintrice.

Unanimismo internacional

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Ditadores são todos os que os senhores do mundo entendam que o são, mesmo que estes sejam eleitos democraticamente pelos seus povos (p.e. Hugo Chavez).

Terroristas são todos os que os senhores do mundo entendam que o são.

Democracia é uma «condição» nos moldes e conforme aos interesses dos senhores do mundo.

E por vezes é preciso levar a democracia acoplada a bombas e engatilhada em armas automáticas. E tem sido assim que os senhores do mundo têm construído as «democracias» no Afeganistão, no Iraque, na Libia, para referir os mais recentes.

E da sementeira de «democracia» que os senhores do mundo fazem, as populações colhem destruição e mortos. Muitos mortos.

Quantos mil só nestes três países?

E no entanto há unanimismo: - era preciso acabar com os ditadores. Ou por causa das armas de destruição maciça (que não existiam), ou para proteger populações indefesas (e atiram-se bombas para cima).

Nunca por razões geopolíticas e muito menos por razões de petróleo.

O facto de entre os três, estarem dois dos maiores produtores de petróleo é só mero acaso. Não é?

Se não fosse temer pela vida de milhares de pessoas, sugeriria aos senhores do mundo, logo que terminada a ação na Líbia e a provocação inicial na Síria, que incluíssem na lista de países para onde é preciso exportar democracia, a Arábia Saudita.

Basta construírem (e é vasta a experiência) o necessário unanimismo.

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