Observação prévia: apesar do corretor de texto insistir em considerar como erro o termo unanimismo, insisto em usá-lo em detrimento da sugestão : unanimidade, por considerar existirem diferenças expressivas.
Unanimidade pode ser uma de aproximação consentida e aceite pelos intervenientes num determinado processo e que se traduz na aceitação e síntese das opiniões individuais, em uma e só opinião, que passa a colectiva.
Unanimismo é o processo resultante de uma produção , no qual se descura o esclarecimento e se insiste na difusão de chavões de fácil aceitação pela generalidade das pessoas. É a antítese de unanimidade.
Exemplos:
Unanimismo da crise
:
A crise, os discursos e a tomada de medidas justificadas por ela são um dos marcantes exemplos dos perigos do unanimismo.
Poucos, as exceções são muito raras, procuraram identificar causas.
A produção passou pela transmissão generalizada do carácter supra nacional da crise com laivos ridículos de sobre natural.
Como se o facto de ela ser supra nacional pudesse de alguma forma permitir que se descartasse a procura de responsáveis.
Claro que eles existem e claro que não só Sócrates; Passos; Teixeira, Cavaco, Durão, Portas. Também são americanos, ingleses, franceses, alemães e têm nomes.
O que não têm são processos de responsabilização criminal pelos crimes que praticaram e praticam.
E as vítimas são todos os que vivem dos rendimentos que auferem pelo seu trabalho.
E os beneficiários (vejam-se os dados referentes às gritantes desigualdades na distribuição dos rendimentos e vejam-se também as vergonhosas diferenças fiscais entre rendimentos do trabalho e rendimentos de capital) são os patos gordos que à sombra da crise - desta e de outras - e que vivendo do rendimento gerado pelos trabalhadores, acumulam colossais riquezas e privilégios
Unanimismo do «estado gordo».
A produção passa pela construção da ideia que um dos grandes culpados pela crise é a existência de um estado gordo, no qual a função publica goza de largos privilégios.
E o sucesso da estratégia está assegurado na medida em que até é verdade que existe um estado gordo e que existem privilégios na função pública.
Mas quererão identificar quem tem engordado no e o estado?
Lembram-se dos empregos para os rapazes?
E as mordomias?
Quem usufruiu (usufrui) de cartões de crédito? Quem dispunha (dispõe) telemóveis para uso ilimitado? Quem acumulou (acumula) vencimentos com senhas de presença e remunerações por participação em órgãos sociais . Quem dispôs (dispõe) da administração a seu belo prazer para arranjar empregos para sobrinhos, primos e amigas? Quem autorizou delegados regionais de toda a pelintrice a usufruir de carro e motorista para todo e qualquer fim? Será necessário dar seguimento às interrogações?
Pois o estado não pode nem deve estar gordo, mas tem de estar saudável e apto para desempenhar as funções sociais que lhe competem e para as quais pagamos os nossos impostos.
E no processo de construção / intoxicação do unanimismo, não confundam função pública com funcionários públicos, porque estes são as vitimas primeiras da pelintrice.
Unanimismo internacional
.
Ditadores são todos os que os senhores do mundo entendam que o são, mesmo que estes sejam eleitos democraticamente pelos seus povos (p.e. Hugo Chavez).
Terroristas são todos os que os senhores do mundo entendam que o são.
Democracia é uma «condição» nos moldes e conforme aos interesses dos senhores do mundo.
E por vezes é preciso levar a democracia acoplada a bombas e engatilhada em armas automáticas. E tem sido assim que os senhores do mundo têm construído as «democracias» no Afeganistão, no Iraque, na Libia, para referir os mais recentes.
E da sementeira de «democracia» que os senhores do mundo fazem, as populações colhem destruição e mortos. Muitos mortos.
Quantos mil só nestes três países?
E no entanto há unanimismo: - era preciso acabar com os ditadores. Ou por causa das armas de destruição maciça (que não existiam), ou para proteger populações indefesas (e atiram-se bombas para cima).
Nunca por razões geopolíticas e muito menos por razões de petróleo.
O facto de entre os três, estarem dois dos maiores produtores de petróleo é só mero acaso. Não é?
Se não fosse temer pela vida de milhares de pessoas, sugeriria aos senhores do mundo, logo que terminada a ação na Líbia e a provocação inicial na Síria, que incluíssem na lista de países para onde é preciso exportar democracia, a Arábia Saudita.
Basta construírem (e é vasta a experiência) o necessário unanimismo.
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