terça-feira, 9 de agosto de 2011

TEMPOS

No meu tempo.
Ai, no meu tempo!

São sempre bons os nossos tempos.(Nem sempre...corrija-se.)
Mas, mau é quando deixamos de ter tempo.
Mesmo quando ainda o temos e resignados, nos lamentamos com a falta dele.
Levamos muito tempo a falar dos tempos e por vezes dedicamos pouca atenção ao tempo que temos.

Este enrodilhado temporal ou temporal enrodilhado vem a propósito de uma série de acontecimentos novos que varrem o mundo e que levam a considerações deste tipo: «vivemos tempos perigosos».
De facto, não são muito serenas as sensações de ver os motins em Londres, as mortandades na Síria e na Noruega, a hipocrisia assassina na Libia.
E os olhos e corpos de fome na Somália.
Inquietam-nos e revoltam-nos os relatos de homens e mulheres que morrem asfixiados num barco que haviam apanhado, para fugir às bombas de democracia que o ocidente lança sobre Tripoli. E os outros, os seus companheiros de infortúnio, a única manifestação de humanidade que podem transmitir é no semblante e na esperança de cada em encontrar forças para ser um sobrevivente..

E esperança-nos ver o sol a ser de novo partilhado na Praça dos indignados de Espanha e em Telavive.

E irrita-nos a conversa bacoca, insensível, criminosa da crise dos mercado, do nervosismo dos mercados, das perturbações dos mercados.

E os berros malucos de gente que diz que a culpa de tudo isto é do multiculturalismo, sem conseguir sequer perceber que é precisamente no contrário que residem todas as culpas.

Voltando à questão dos tempos dei por mim a recordar-me de uns tempos em que era criança rapaz e de uma rega de tomatal.

O dia estava então ameno, até mesmo quentinho, Um rancho de homens regavam o imenso tomatal. Trabalho rotineiro, a água corre por um regueiro central, mais caudaloso porque vai ser repartido, os homens encaminham depois parte desse caudal para o rego a regar, quando a água chega ao fundo, fecham, reencaminham para outro rego e assim sucessivamente, até que fechem o regueiro central e sejam horas de bucha..
Só que, por vezes, algo corre mal e esta rotina vira carga de trabalhos.
«Já tinha dito vezes sem conta que isto um dia se dava, gritou um dos homens».
Remenda-se ali porque ali rebentou, ali mais à frente a mesma coisa e acolá e ali mais em baixo. Por vezes é necessário suspender o caudal da água, pois já não se dá conta. È preciso voltar e reparar regueiro, regos, toda a estrutura de rega.

«Ou todo o sistema de rega, isto assim já não dá» gritou de novo o mesmo homem.

Como será em Londres?

0 comentários:

Enviar um comentário