quinta-feira, 4 de agosto de 2011

É a crise

A coisa pública

Com base e enquadramento na onda geral de discursos de diverso tipo, em torno ou tendo por base a CRISE, várias consequências, digamos, colaterais, vão surgindo e assumindo dinâmicas, sem que sobre elas se trave, o necessário debate .
Assim é com o BPN. Em que pagamos e nada sabemos. E em nada fomos ouvidos.
Assim é com as PPP - Parcerias Público Privadas. Sem que, na maior parte das vezes saibamos sequer quem são os ditos «parceiros».
Assim é com o déficit. Porque há déficit? Quem autorizou mais despesa do que a que estava orçamentada? Quem inflacionou as receitas para poder fazer despesas para as quais sabia não ter condições?
E colateralmente, digamos assim desta forma «moderna», aumenta a desigualdade na repartição dos rendimentos com óbvio prejuízo para os trabalhadores. Reduzem-se direitos e espezinham-se garantias. Aumentam-se impostos, estagnam-se salários. Aumentam-se os transportes públicos e reduzem-se ou mesmo eliminam-se contribuições sociais. Aumenta-se o desemprego e facilitam-se os despedimentos.

Enfim… é a crise.

Mas o objectivo deste texto, não é chover mais no molhado (até porque parece que muitos gostam de andar enlameados) mas colocar uma questão de ordem local:

Por causa da crise, suspende-se o TGV (até mesmo a linha Poceirão - Caia) com passagem e estação em Évora.
Por causa da crise, suspende-se a conclusão do Projecto de Alqueva, aqui no Alentejo.

E parece construir-se uma unanimidade de aceitações para tais factos (como para os outros): é a crise.
Não podemos dar-nos a tais «luxos», arrematam.
Mas duas questões (para facilitar) me intrigam:

Porque não questionaram (com a mesma unanimidade opinativa e com base no mesmo argumento - ou seja, a crise) os 2,4 mil milhões que se esfumaram no BPN (creio que esta verba - somados os outros 2,6 mil milhões que agora se deixou de referir - é (seria) suficiente para construir o TGV e concluir Alqueva)?
Se estivéssemos a falar da ligação TGV Aveiro - Salamanca, ou Lisboa - Porto ou de qualquer outro investimento na Madeira, teríamos a mesma unanimidade de pensamento por parte dos opinólogos de serviço?

Mas é do Alentejo que falamos não é?!.

Pois é… e todos (quase) continuamos muito apostadinhos em partilhar dos unanimismos balofos, das soluções más mas as únicas possíveis, em não gastar tempo a interrogar porque isso dá trabalho, em mandar umas atordoadas tipo «eles são todos a mesma …» a pagar os impostos e não interrogar a que se destinam.
Entregamos sem pestanejar a gestão da coisa pública, aos corredores que melhor nos posicionam para o efeito e estes depois fazem dela coisa sua e dos seus.

É a crise.

E… «cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas».

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