Abril, o mês mais bonito de todos os meses inventados pelos homens, o mês que celebra um povo que se levanta do chão e aprende a liberdade, o mês da festa e dos cravos, começou cinzento e sob nuvens carregadas de preocupações.
A crise com que nos fustigam continua a produzir mais desigualdade, mais desemprego, mais dificuldades.
E os que fartos, têm provocado a crise que nos afecta a nós, prometem mais dificuldades - para os mesmos - e jogam grotesca e escandalosamente o jogo da hipocrisia e do empurra. Uns renegando o FMI e aplicando as medidas que este imporia e outros ansiosos que este venha - para ficar com as culpas - das medidas que eles anseiam tomar.
E o povo alheado, alienado, atira pedras nos campos de futebol, delicia-se com enredos telenovelescos, chora as dores virtuais alheias e prepara-se para alinhar o seu voto naquele que posicionarem (outros - os interessados) como vencedor.
Fala-se da crise como se fosse coisa da natureza, qual sismo ou maremoto avassalador.
Não tem culpados.
Mas tem vítimas. Muitas vítimas.
E tantas destas, não interrogam. Aceitam.
Participam no jogo cénico da desculpabilização e preparam-se para uma vez mais juntar o seu voto ao voto dos culpados.
Parece que gostam de beneficiar o infractor (adaptando a linguagem ao futebol - o tema por excelência) e condoídos aceitam os cândidos cânticos dos que lhe acenam com uma maioria que designam de salvação nacional e que tem tudo de último refúgio de conluiados e dos grandes culpados pela crise.
Uma maioria que tem tudo da malograda União Nacional quem em bons tempos o bonito mês de Abril aniquilou.
Por mais voltas que se possam dar, este é o cenário que se perfila.
Há no entanto alguns que acreditam, que lutam - como antes outros o fizeram para que Abril fosse possível - e que apontam um outro rumo.
Um rumo de esperança em Abril.
Pode ser.
Pode ser que voltem a florir cravos vermelhos.
Pode ser que voltem os dias de sol.
E que felizes nos abracemos sobre a memória destes dias cinzentos e tristonhos.
Abril é o mais bonito dos meses.
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