Por vezes há quem não goste da frieza de algumas abordagens.
De uma certa frustração que está subjacente em muitas delas, de uma espécie de falta de esperança que se projecta.
Compreendo.
Mas sentem-se (em silêncio) numa sala de espera de um hospital, abstraiam-se do jornal que abstraídamente folheiam na paragem do autocarro e oiçam as vozes ao lado, oiçam, oiçam, mas sem o filtro «cultural» que habitualmente usam.
Oiçam e sintam.
E encontrarão os ecos de um povo perdido. Sem dinheiro para as rendas, sem dinheiro para os remédios, sem emprego.
Um povo cansado. Sem forças para articular o mais leve esboço para interrogação.
Ansioso que chegue a noite, quando todas as exigências amainam e então enterrar-se no velho sofá e saber da vida dos que vivem bem e sem aqueles sufocos.
Dir-me-ão: mas há os que dizem não, que participam nas associações, nos sindicatos, nas lutas.
É verdade. Nós sabemos. Nós estamos nesse campo.
Mas o problema subsiste.
A 5 de Junho estaremos todos em condições de saber escolher?
Recordemos Marx, recordemos o seu conceito de alienação e preocupemo-nos.
Agora que JS demonstrou uma vez mais que o que diz deve ser entendido nos seus contrários e que obediente cumpriu, rapidamente, as exigências dos seus patrões.
Agora que o seu colega se esforça para dizer aos patrões que é muito mais diligente e obediente.
Agora que o medo se vai instalar de forma ainda mais negra e que «todos» irão falar de salvações nacionais.
Agora em que cada vez mais fica claro que a fome, a miséria, o medo, não são componentes para uma tomada de consciência social, mas sim para o seu contrário.
Agora, em que é preciso cortar caminho, preocupa-me a séria possibilidade de retomar aquele que nos conduziu até esta situação.
Dir-me-ão: trabalha para que isso não aconteça.
Assim o faço. Assim o fazemos tantos.
Mas os problemas (e todos os problemas têm soluções - todos) resolvem-se, conhecendo-os e intervindo com base nesse conhecimento, para a sua resolução.
Ignorá-los nunca foi solução.
E nós, para além da «crise» e do FMI, temos pela frente sérios problemas.
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