Parece que muitos - a maioria, para também fazer uso desta entidade mítica - perderam a memória, a capacidade de indignação e acima de tudo a de interrogação.
Dizer hoje que Portugal não precisa de ajuda e dois dias depois afirmar que a ajuda que Portugal precisa não é só para seis meses mas para muito mais tempo, não envergonha o seu autor, não indigna a maioria e não conduz à curiosidade dos seus concidadãos.
Fazer de uma candidatura uma batalha de honra (segundo o conceito do próprio) contra os malefícios do partidarismo e passados alguns dias aceitar convite para integrar essa mesma partidocracia, não envergonha o próprio, não indigna a maioria e não conduz à curiosidade dos cidadãos.
Outros exemplos, imensos outros, poderiam aqui ser trazidos.
Há mesmo casos em que de tão recorrentes, muitos de nós aprendemos a interpretar os ditos nos exactos termos dos seus contrários.
Alguns afirmam - enveredando pela perspectiva moralista - que este estado de coisas é o retrato da condição e «estatura moral» do país. Em boa medida é verdade, mas a questão vai para além disso.
O que está a acontecer insere-se numa estratégia geral de descredibilização da democracia, procurando e em boa medida conseguindo, o alheamento e a culpabilização «cega» da política por todos os males.
Tudo se consubstancia na máxima das massas «são todos iguais».
E sob essa cobertura, vai ficando claro em cada dia que passa - para os que ainda não perderam as faculdades de memória, dignidade e capacidade de interrogação - que o governo de Portugal - e da Europa, acrescente-se - é o governo do capital.
São os bancos que ditam, decidem, arrecadam, arruínam famílias e países.
O dinheiro deixou de ser um factor de produção e passou a ser um instrumento de mera comercialização assente na mais descarada especulação.
A um gerente - supra sumo da inteligência «capital» - pagam-se somas escandalosas.
A um investigador que contribui com a sua inteligência, a sua dedicação e o seu trabalho para procurar encontrar soluções para os seus iguais, com merecido destaque para os que trabalham nas áreas da saúde, mitiga-se o que se lhe paga.
Pobres coitados dos gestores de meia tigela que dentro dos seus b emes e empanturrados nos tavares se julgam o supra sumo da sociedade.
Admitamos que em certa medida o são.
Desta sociedade decadente e medíocre.
Mas reconheçamos - os que ainda têm as faculdades já descritas - que homens com H são os outros.
Mas voltando à questão da natureza do poder político.
Se dúvidas existissem, bastava estar atento, aos últimos dias e às melhores prestações dos agentes nacionais do governo do capital.
Reunião de banqueiros - quais múmias -, recados de banqueiros seguidos à risca pelos seus diligentes empregados no governo, entrevistas a banqueiros - quais múmias - chegada do homens do FMI - qual Força de Intervenção - discursos dos pseudo especialistas empregados dos banqueiros, agachamentos dos outros que nem empregados são dos banqueiros. E a religião metida ao barulho, como sempre.
E o povo - as massas - as vítimas - compreendendo que a situação está difícil. Que é preciso salvar o País. Que o Sr. Presidente tem razão e que é preciso que todos se unam.
E vai daí,o povo - as massas - preparadinho para homologar mais um governo do capital, estando só indeciso se o há-de fazer com o cõnsul geral que lá tem estado se escolhe o outro cônsul geral.
E..
O general diz fanfarrão que assim não tinha feito a revolução.
Ah, pois não. Mas ela tinha-se feito muito bem sem ele.
Mas
Ai Abril….
Ai Abril.
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