segunda-feira, 9 de maio de 2011

Vemos, ouvimos e muitos calam

Vemos, ouvimos e muitos calam

Parece que muitos, muitos mesmo, perderam a capacidade de se indignarem.
Retiram direitos, humilham, abusam e gozam-nos.
E muitos calam .
Gastam sem escrúpulos recursos que só foram postos à sua disposição para gestão e não há quem lhes peça contas.
Alguns desses sumptuosos gastos, não só são actos imorais, como constituem crime de abuso de poder e ninguém responde por esses actos.
Dois acontecimentos distintos reforçam este comentário:
Aqui, nesta pacata cidade onde vivo, dei por mim a observar, preocupado, a profusão de bmw, audis e mercedes estacionados em cima do passeio junto da CCDRA.
Junto de cada um dos bólides estavam os respectivos motoristas, fardados a rigor. Alguns deles tinham fardas militares ou de forças de segurança.
Para fazer o trajecto, que faço a pé e para o efeito é normal usar o passeio, tive que sair deste e usar a faixa de rodagem.
Como eu, outros foram forçados ao mesmo.
E calam-se. De tão anormal esta anormalidade, acham até mesmo que é normal.
Suas excelências que deduzo seriam directores regionais de diversas coisas, representantes locais dos poderes diversos, porventura arcebispos e bispos, presidentes de algumas câmaras, não podem conduzir as suas próprias viaturas e também não podem deslocar-se até ao parque de estacionamento que estava vazio a 20 metros do local.
Eles podem estacionar em cima dos passeios, desfrutar de benesses absurdas. Eu tenho que levar cortes no salário, aumentos de irs e ter a carreira congelada.
Muitos calam. Eu, enquanto puder, NÃO.
Um dos outros acontecimentos que me indignaram, tomei dele conhecimento quase à socapa: um barco com 72 homens, mulheres e crianças, fugindo de Tripoli fez-se ao mar numa barcaça (como tantos outros pobres desgraçados à procura de uma possibilidade de viver). Acabado o gasóleo, ficaram à deriva no mar alto. Pediram ajuda e comunicaram com um navio militar e com um helicóptero da Nato e com a Guarda Costeira de Itália. Demasiado ocupados em descarregar bombas de democracia sobre Tripoli, criminosamente ignoraram os apelos e pedidos de socorro.
11 dos 72 homens, mulheres e crianças, morreram à fome e à sede.
Andaram assim, durante 16 dias. Lançando em cada dia ao mar os corpos dos que não haviam resistido.
Corpos de homens, mulheres e crianças. Tão humanos como nós.
E os «democrata»» continuaram ciosamente a lançar bombas sobre Tripoli.
Muitos calam. Eu, enquanto puder, NÃO.

Há sessenta e seis anos a Europa procurava erguer-se por entre os escombros e começar de novo a paz.(De novo tantos a quererem que a gente esqueça)
A barbárie nazi chegava ao fim e em Berlim erguiam-se bandeiras de esperança.
Calculo - só posso mesmo calcular - a imensa alegria dos sobreviventes.

Que haja um dia, em breve, a mesma alegria.
Para todos os povos do mundo.

Porque ainda há quem não se cale. Tal como eu.

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