quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Estória de bola

 

Na minha aldeia, como em qualquer outra aldeia e como em qualquer outro sitio onde haja gaiatos e uma bola e se goste de jogar à bola, jogava-se e joga-se à bola.
E cada um jogava e joga o que sabe. E ninguém sabe porque é que uns sabem mais de bola do que outros.
Acontece que só quando estes gaiatos deixam de ser gaiatos é que ficam a saber que aquilo a que chamam de jogo da bola se chama afinal de futebol, mas isso agora não importa nada para o caso.
Aliás, muitos deles, até ficam a saber que aquilo a que chamavam bola, tem pouquíssimas semelhanças com uma bola a sério, mas isto, também não importa agora.
Agora, o que importa e não sei bem a que propósito, é a recordação que me assalta de um desses jogos.
Garantidamente, em cada sitio onde se joga à bola, há um personagem completamente desajeitado para o jogo.
E com estes ninguém quer fazer equipa. Vão quase sempre para suplentes.
No jogo de que me recordo e de que quero falar agora, não houve suplentes. Se metêssemos o Tonho Zé a suplente, a coisa ficava desequilibrada.
E então, eis a oportunidade de vida do Tonho Zé. Que não tinha maldito jeito para a bola.
Esteve quase sempre quieto em frente à baliza adversária.

Ás vezes ia apanhar a bola, mas nem para lançamentos laterais tinha habilidade.
Os outros, corriam, driblavam, chutavam. E ele quieto.


Aconteceu no entanto, que numa jogada, o guarda redes adversário saiu mal a uma bola e eis que, por razões não explicadas, ou que pelo menos a lógica não explica,  a bola foi ter aos pés do Tonho Zé que de frente para a baliza e sem guarda redes, bastava empurra-la e fazer golo.
Pois. Baliza escancarada. Guarda redes distante, mais ninguém pela frente. Era só empurrar.
Mas o Tonho Zé não empurrou. Esperou, esperou e depois fez aquilo que  na gíria se chama um passe que o guarda redes, que este, entretanto regressado ao seu posto, nem lhe agradeceu.

Hoje, que já sei que a este jogo se chama futebol, penso no Tonho Zé.
Que desbaratou o nosso esforço.
Que entregou o jogo ao adversário
E que nos obriga a esforços redobrados.
Nem como suplente o queremos.

Nem sei a que propósito me recordei desta estória parva…

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