quinta-feira, 15 de abril de 2010

Actualidades



No banco da frente, deste imaginado comboio, desta imaginada viagem, segue animada a discussão sobre a qualidade das unhas de gel.
No outro lado do corredor discute-se com ardor as últimas e assertivas tácticas de futebol.
Já não avisto, por entre o montado, o rebanho.
Enfadado vou ao bar, peço uma água e folheio um jornal.
Fico a saber que a quando da próxima visita papal o governo decidiu conceder tolerância de ponto aos funcionários públicos.
Rico e santo país.
Pode não haver dinheiro para os salários, mas gozamos.
Aguardo outras santas visitas, budistas, judaicas, muçulmanas, hindus (ajudem-me a encontrar mais p.f.) na esperança de talvez conseguir umas férias suplementares.
Nem de propósito, ao regressar ao meu lugar, a conversa das minhas companheiras de viagem do banco da frente, havia mudado de rumo. O profundo assunto das unhas de gel estaria por agora esgotado.
Aprofundavam a «desfaçatez» com que os jornalistas e outros… e outros…andam a tratar sua santidade.
Pedofilia??? Só invenções. Fizeram o mesmo com o primeiro-ministro, é só calúnias!
Que não tinha «engenharia» e outras coisas!!! Agora é isto…nem o papa escapa??? Para onde caminha o mundo???
Como se alguém acreditasse nestas coisas???
E com os meus botões penso nos milhões de pobres e sub nutridos, na fome que grassa e percorre transversalmente o mundo, nos milhões sem emprego, sem casa, sem roupa, nas vítimas das guerras dos senhores gananciosos, nas crianças maltratadas.
E penso em quanta insípida é acção da igreja neste vasto campo.
E quando falam de fome, fazem-no ecoando as suas gordas barrigas apertadas em aperaltadas vestes cobertas de adornos doirados.
E do alto dos seus púlpitos de talha doirada.
E sob os seus imponentes templos, reluzentes.
Levanto-me e vou dar circulação às pernas e à cabeça.
Quando volto, as unhas de gel falam de casos escabrosos de amores e traições.
Fico logo depois a saber e mais tranquilo, que é o enredo da última telenovela da TVI… ou da SIC?...ou da RTP?..baralham-me, não distingo as diferenças.

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