sexta-feira, 4 de março de 2011

Eu tive um sonho

Eu tive um sonho.
Todos temos sonhos, não é verdade?
Nesse sonho:
Vivia numa pequena cidade do sul. Uma cidade nova encostada às muralhas de uma velha cidade.
Casario branco, rasteiro, ruas limpas e cuidadas .
No centro, becos, ruelas, praças fervilhando de gente - muitos visitantes - esplanadas plenas de cor.
E muita luz, muito sol.
E grandes monumentos a lembrarem-nos outros tempos, antes de nós - ou antes do sonho.
Na cidade nova, as casas tinham pequenos quintais e jardins.
Espantosamente - pequenos jardins e até pequenos hortejos - não lajes e cimento.
Nesse sonho, nessa manhã, a vizinha do lado tinha vindo pedir-nos hortelã e bem fresca a levou para a sopa da panela.
À tarde, num passeio pelos arrabaldes, visitámos um centro de interpretação do mundo rural. Deambulando pelos campos bem tratados, trocámos umas palavras de circunstância com o homem que olhava pelas ovelhas. Apanhámos uns espargos e fomos até ao monte. Traça antiga, barrinha azul em todo o casario, rua empedrada e limpa. Ali funcionam uma padaria, uma leitaria e queijaria. Comprámos pão quente e leite fresco.
Em volta do centro de interpretação funcionam outras unidades de exploração agrícola, modernas e bem geridas. Algumas são cooperativas, outras empresas familiares.
Há pleno emprego, para os de cá e para muitos que têm vindo para cá.
Na aldeia há escola, centro de actividades infantis, posto médico com médico. Um pequeno Centro Cultural - cinema de qualidade uma vez por semana .
Quatro vezes por dia, um moderno mini autocarro liga a aldeia à cidade.
De forma tão inexplicável como inexplicável é a razão para o sonho, este acaba.
E:
Procuro conferir coincidências. Encontro uma:
vivo numa pequena cidade do sul…
Ruas descuidadas e sujas.
Ambiente sombrio. Monumentos que como chorando, largam pedaços de si sobre quem os contempla. Ninguém tem o direito de contemplar a sua decadência…
Casas abandonadas. Cada vez menos gente. E os filhos dos que ficam - os que ainda resistem - a partir para outras cidades à procura dos seus sonhos
Quintais cobertos de cimento e lajes.
E os campos envolventes abandonados, cercados de arames.
E as noticias dos jornais amedrontando. «O Mundo não tem capacidade para produzir alimentos para todos».
Este «mundo» não tem não.
Mas o mundo que sonhei, esse tem.

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