terça-feira, 15 de março de 2011

PARADOXOS

Falam-nos muito em imensas maiorias. Sempre que queremos valorizar um argumento ou evidenciar um atributo, logo nos socorremos deste jarrão. Tem quase o mesmo peso argumentativo do que aquele que consiste em usar recorrentemente : «está provado cientificamente».
A História está repleta de exemplos das expressões práticas dessas amplas maiorias e muitos deles são de molde a que neles não se procurem exemplos.
Tantas atrocidades foram cometidas com suportes em amplas maiorias.
A História de Portugal fornece-nos sobejos exemplos. Se nos situarmos nos mais recentes, lembrar-nos-emos da imensa maioria que adorava salazar (dispensando por isso eleições livres), da maioria silenciosa que queria abafar a liberdade que despontava e das imensas maiorias que com o nome de democráticas e com a «legitimidade do voto» dos portugueses, delas se serviram par anular Abril.
Não gosto por isto e muito mais, das «imensas maiorias», mas faço, evidentemente, ressalvas a este meu não gosto.
Gosto, por exemplo, que a imensa maioria dos homens e mulheres de todo o mundo amem a paz e a liberdade, que a imensa maioria rejeite todas as formas de descriminação.
Dados estes exemplos de ressalvas (onde se se incluirão todas as outras que estão associadas à condição humana, à igualdade de oportunidades para todos e aos direitos universais que devem ser garantidos ), aduzo ainda contra as imensas maiorias (de pensamento, comportamentais, de submissão) o facto elementar da enorme diversidade humana.
Os homens e as mulheres de todo o mundo se constituem uma imensa maioria esta só pode ser a imensa maioria da diversidade. De cores, crenças, culturas, línguas diferentes.
Vem tudo isto a propósito e o paradoxo reside aqui, no facto de eu considerar que a imensa maioria do povo português está farta deste governo.
E o paradoxo ainda ganha mais expressão por força de eu considerar que é exactamente esta imensa maioria que «suporta a existência e permanência» do governo.
Passo a explicar (desagregando, para o efeito, a «imensa maioria»):
Os trabalhadores estão contra, porque o governo corta nos salários, aumenta os impostos, fomenta a precariedade, aduba o desemprego.
Os reformados estão contra, porque o governo corta nas pensões e diminui as prestações sociais.
Os estudantes estão contra porque pioram as condições de ensino, aumenta o desemprego e a saída é o desemprego.
Os camionistas estão contra, os professores estão contra, os militares estão contra…
Mas…
A imensa maioria dos portugueses, teme que a este se siga outro igual chefiado por Passos Coelho.
E…
O PS também está contra, porque queria ter a tal maioria absoluta que não tem, mas evidentemente não vai derrubar o seu próprio governo.
O PSD está contra (ou finge estar) mas não vai interromper a execução de uma política que agrada socialmente ao seu eleitorado sem ter a certeza ABSOLUTA de que será ele o escolhido maioritariamente.
O Presidente está contra, mas está à espera de uma oportunidade.
E assim, neste periclitante desequilíbrio de contras se vai mantendo um governo que está contra o País.

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